
Filósofo de ofício e sensibilidade, o caxiense Gilmar Marcílio, mentor do Território do Saber, promove reflexões e incursões sobre os caminhos do equilíbrio interior. Filho de João Marcílio e Anna Bridi Marcílio (in memoriam), formou-se em Filosofia pela UCS em 1984. É escritor, palestrante, colunista do Pioneiro, coordenador da Galeria Gerd Bornheim e programador da Sala de Cinema Ulysses Geremia. Ser pensante, traduz as ideias de autores humanistas e estoicos em linguagem atual, afetiva e lúcida. Em suas palestras, Gilmar tem encontrado crescente espaço no ambiente corporativo, especialmente a partir da Lei nº 14.831, sancionada em 2023, que determina a obrigatoriedade de programas de saúde mental nas empresas. Reforça sua sensibilidade em caminhadas pelas manhãs em São Virgílio da Sexta Légua como quem percorre suas próprias metáforas. Acredita que a felicidade é avulsa, um instante de pausa entre os ruídos, e faz da serenidade seu maior gesto de resistência. Seu futuro livro, de mesmo nome, logo será lançado, como extensão da voz que ecoa em suas narrativas: suave, firme e transformadora.
O que é o bom da vida? Encontrar em si um ponto de equilíbrio chamado serenidade.

Como surgiu o impulso para transformar sua escrita e pensamento em palestras? Foi um movimento natural, espontâneo. Uma sensação de transbordamento. Aprendi a partilhar como um exercício espiritual, apresentando aos demais as lições aprendidas dos meus grandes mestres: Sêneca, Marco Aurélio, Epíteto, Montaigne e Marguerite Yourcenar.

O que sentiu ao sair da página e ir para a presença direta com o público Tenho uma vívida lembrança da minha primeira palestra. Foi há quase vinte anos, a convite de uma amiga, em um café. O modesto público de oito pessoas me acolheu com carinho e entusiasmo. Minha entrega está sempre voltada para a abertura do diálogo franco e objetivo. A partir deste momento, percebi em mim o desejo de comungar o conhecimento que a filosofia me entregou.

Que pessoas foram importantes na sua trajetória? Tive a benção de ter aulas, em meus anos de formação, com a mais espetacular das professoras de português e literatura, Salete Santos. E minha irmã, também chamada Salete, que desenvolveu em mim o sentido de retidão e o amor pelas palavras.

Vivemos em uma era de alta performance, na qual ser produtivo parece mais importante do que ser feliz. Como escapar dessa lógica sem se sentir um “fracassado”? Não existe ser sem ter. A grande questão é estabelecer um limite para a ambição. Os verdadeiros perdedores são aqueles que alugam a maior parte do seu tempo para produzir mais e mais quinquilharias. Precisamos de pouco, bem pouco, para nos abrigarmos na felicidade.

Qual é o lugar da serenidade no mundo? É um privilégio, uma prática, uma conquista? Para mim, é viver abraçado o máximo possível ao silêncio. A prática da solidão consentida me devolve ao mundo um pouco melhor do que quando estou imerso em ruídos. Romper com a prepotência do Eu, instalado no centro de nossas existências. O outro é o reconhecimento de que um único fio nos conduz através do mundo.

Com que mensagem encara o mundo? Na persistência da modéstia, através da grande lição do filósofo estoico Marco Aurélio: “Em breve esquecerás, em breve serás esquecido.”
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Mar de ideias
- Gostaria de ter sabido antes... primeiro aprenda a andar, só depois a correr.
- O que me sustenta nos dias difíceis é... a leitura de um poema, a lembrança de minha mãe, Anna, que me ensinou o valor da bondade.
- Quando penso em liberdade, imagino... voltar ao tempo da infância, correndo pelas pradarias.
- A felicidade tem a ver com... livros, abraços, arte, descanso.
- O tempo só faz sentido quando… somos conscientes do efêmero, da fugacidade.
- Estar presente exige... disciplina e atenção.