
Quem vivenciou os anos 1990 e 2000 talvez se lembre, principalmente no dia do aniversário, do som inconfundível de um carro de som — por vezes decorado com balões e corações — parando na frente de sua casa e anunciando com entusiasmo: “Essa mensagem vai para alguém muito especial…”. Ou, quem sabe, tenha atendido ao telefone e recebido uma mensagem afetuosa embalada por uma música emocionante.
Parece coisa do ado, não é mesmo? Mas as telemensagens — aquelas declarações de amor, carinho e parabenizações narradas com emoção — continuam embalando muitas comemorações. Mesmo com as redes sociais tomando conta da cena, as empresas de telemensagens procuraram, ao longo dos anos, se adequar às novas tecnologias para seguirem firmes no ofício de emocionar e surpreender.
As telemensagens tiveram seu auge logo nos primeiros anos do seu surgimento. Com o ar dos anos, mesmo com a demanda reduzida, o ramo nunca parou — o que pode ser motivo de surpresa para algumas pessoas. Basta uma pesquisa rápida na internet para encontrarmos ao menos seis empresas que oferecem esse serviço em Caxias do Sul.
Atualmente, os valores variam de acordo com o dia, o horário e a distância, partindo de R$ 40 por uma mensagem por telefone a R$ 130 por meio de carro de som. O maior número de homenagens ocorre aos finais de semana, ao longo de todo o dia. Durante a semana, a preferência do público é pela noite, para melhor visibilidade dos efeitos de luz e fogos, no caso do serviço presencial.
Além disso, a maior parte das mensagens é para celebrar aniversários. Entretanto, os serviços também costumam ser contratados para declarações de Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia dos Namorados — e até pedidos de reconciliação, acredite!
"Para quem tem sensibilidade"
Um veterano na área é Marcos Elisio Nunes, 54 anos, um dos pioneiros do serviço de telemensagens na cidade e proprietário da Magika Cestas e Sonhos há 25 anos. Começou influenciado pelo seu pai, que dez anos antes já era referência nas telemensagens por telefone.
— Primeiro eu tive a ideia de transcrever as mensagens que meu pai ava por telefone. Com isso, eu ia até a casa das pessoas, lia a mensagem e entregava uma rosa e uma caixa de bombons. Eu vi que isso era legal e meu irmão deu a ideia de colocar um som no carro. Foi assim que comecei — lembra.
Nos anos áureos do serviço, de 2000 a 2010, Nunes recorda que havia cerca de 20 empresas que faziam telemensagens ao vivo em Caxias do Sul.
— Muitas vezes, acontecia de eu ir fazer uma telemensagem em uma casa, e a casa do lado também estar recebendo uma com outra empresa — conta.
Na contramão da maioria dos serviços, a demanda das telemensagens aumentou para Nunes nos últimos anos. Segundo ele, atualmente, o negócio entrega, em média, entre 10 e 15 mensagens por semana.
— Antigamente, quem mandava uma telemensagem era no intuito de brincar. Hoje em dia é diferente, pois as pessoas querem mesmo homenagear e fazer com que as pessoas se emocionem. E essa é a minha paixão. Enquanto existir alguém apaixonado, a telemensagem vai continuar, pois ela é para quem tem sensibilidade — acredita.

"Fica guardado para sempre na memória e no coração"
Outro profissional atuante no mercado de telemensagens ao vivo é João Cláudio Massens Gomes, 64, dono das marcas Tele Carinhos e Tele Love Car. Gomes começou no ramo em 1996, mas o auge do serviço, segundo ele, foi entre 2010 e 2012.
— Eu cheguei a fazer 45 telemensagens num único dia naquela época — recorda.
Em quase 30 anos dedicados à profissão, Gomes lembra que as telemensagens já renderam histórias memoráveis e até inusitadas.
— Às vezes as pessoas mandam para ver qual é a reação de quem vai receber. Uma vez uma mulher pediu uma telemensagem para o sobrinho dela e quando cheguei lá o rapaz fugiu. Eu tive que fazer mesmo assim. Acho que ele ficou escondido em algum lugar — lembra, aos risos.
Compartilhando da mesma opinião de Nunes, Gomes também acredita que as telemensagens sempre irão existir:
— É um presente bom porque é simples e fica guardado para sempre na memória e no coração de quem recebe.

"Mensagem ao pé do ouvido tem significado muito importante"
Maria Vitória, 64, é uma das responsáveis por manter viva essa tradição. Proprietária da marca Vitória Telemensagens, ela oferece mensagens por telefone, com direito a música de fundo e para todos os públicos.
Vitória começou no ramo em 2001, após ter recebido o diagnóstico de um melanoma em um dos olhos. Essa foi a maneira dela se distrair e investir em algo pessoal. Começou adquirindo CDs com mensagens gravadas e engrenou no negócio. Chegou a fazer cerca de 25 mensagens por dia e até 200 em datas especiais.
Apesar de as telemensagens por telefone terem tido sua demanda reduzida e sendo mais impactada com as novas tecnologias em relação ao serviço ao vivo, Vitória ainda se orgulha de sua atividade que, segundo ela, tem a capacidade de aflorar diversos sentimentos.
— Meus clientes dizem sempre que quando eles recebem uma mensagem ao pé do ouvido, onde quer que estejam, tem um significado muito importante. É mostrar que alguém se disponibilizou em demonstrar o amor. E saber que uma pessoa ficou muito feliz em receber uma telemensagem também me deixa feliz — reflete.
Uma nova geração de fãs
Engana-se quem pensa que só os mais velhos ainda apreciam esse tipo de gesto. O jovem Rafael Antoniazzi é um verdadeiro entusiasta das telemensagens.
Há três anos, ele e os amigos mantêm viva a tradição de enviar mensagens uns para os outros em datas especiais. E, se a tradição continuar (e tudo indica que sim), este sábado (14) será de expectativa para Antoniazi, já que ele celebra 25 anos.
— Fico até com medo (risos) mas feliz também — revela.
Tudo começou como uma brincadeira, mas o grupo de amigos viu que a atitude, além de ser divertida, também era emocionante.
— Quando chamamos a primeira vez, vimos que o profissional levava o trabalho muito a sério e gostamos. A partir daí, começamos a chamar sempre quando alguém do grupo de sete amigos faz aniversário. Acabou virando uma mania — conta.
O jovem já recebeu duas telemensagens ao vivo. Chegou até a emoldurar as mensagens que recebeu e tem guardadas as fotos e vídeos dos momentos.
— Eu acho muito bacana, e é um presente que mostra justamente que o pessoal quer fazer uma surpresa. Quando a gente recebe uma telemensagem é uma alegria que acaba em emoção, porque o choro é muito fácil, mas é um choro de felicidade — resume Antoniazzi.